Após quatro anos, podemos dizer, agora, que o último governo brasileiro cumpriu, de fato, a política autoritária que anunciava. Foi eficiente, nesse sentido: ao operar o desastre. Ele levou ao extremo o desmantelamento da educação e da pesquisa no país; incentivou abertamente os vários modos da violência e da segregação, já estruturantes de nossa história racista e devastadora; aprofundou as enormes desigualdades sociais e, sobretudo, desprezou a vida, ao instrumentalizar uma questão sanitária coletiva para o manejo de uma governabilidade insana, ou seja, ao fazer a morte de centenas de milhares de pessoas funcionar como uma forma de política — apolítica — e de gestão da catástrofe.

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Diante desse cenário desolador, vivemos um estranho retorno à “normalidade”. Uma espécie de anestesia, de marasmo, parece ter se espraiado pelos espaços públicos, notadamente a Universidade, que sofre de uma letargia na retomada de atividades presenciais — cada vez mais assediadas, aliás, pela lógica da atomização virtual do ensino, com sua cartilha precária e instrumental, pobre de pensamento e de imaginação pública, mas, assim, bem ajustada ao mercado e aos grandes grupos de investidores do setor.

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Como reverter essa situação? Num chamamento, o Núcleo Oco de Artes acredita que o caminho deve ser ao mesmo tempo poético e político, e que ele passa, necessariamente, por reagrupar e reocupar… Mas re-agrupar e re-ocupar implica agrupar e ocupar novamente as mesmas coisas da mesma forma? O que significa agrupar — e quais os (novos) modos de agrupamento — em um cenário de predominância de redes, bolhas, e isolamento social? Quais são os espaços — reais, virtuais, possíveis — a serem ocupados, e quais as maneiras de fazê-lo? Que ocupações e agrupamentos — atuais e fictícios — podem servir de (contra-)exemplos? Que formas e estratégias artísticas e políticas apresentam roteiros para um futuro que não seja o deserto e a extinção? São essas questões - mais que suas respostas imediatas — que pretendemos colocar e debater em nosso III Seminário.

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Desse modo, convidamos à partilha de reelaborações do presente através de trabalhos no âmbito das ciências humanas, em geral, da arte e da literatura, em particular. As inscrições para comunicação oral podem ser realizadas até 10 de outubro de 2022. O evento será realizado entre os dias 07 e 11 de novembro, na Universidade Federal de Santa Catarina. As propostas devem ser enviadas para o e-mail: seminario.oco@gmail.com, contendo nome, vínculo institucional, título do trabalho, resumo (entre 200 e 300 palavras) e palavras-chave.

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Os trabalhos serão selecionados por comitê científico.